Pós-graduações IMED 2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

A liberdade da ciência


Sempre se discutiu e preconizou que a ciência é um empreendimento aberto a críticas e evolui a partir das próprias falhas. Esse foi e deve ser o princípio que a rege, pois se for diferente, ela passa a ser outro tipo de conhecimento, que não ciência. Esse é, com certeza, a força que possui: submeter as boas (e até mesmo más) ideias aos pares. A crítica das idéias é o seu motor.




Para que estas ideias sejam veiculadas, os principais mecanismos de divulgação são os periódicos científicos. Neles, os próprios pares - os cientistas - são os agentes que avaliam se o que está escrito nos artigos foi adequadamente redigido, se o método aplicado está em harmonia com os cânones da ciência e se os resultados conseguem efetivamente confirmar o que já se sabe ou se há a inclusão de algo diferenciado. Após isso, há a indicação ou não de publicação do artigo.

Na maioria dos bons periódicos esta avaliação é feita às cegas, ou seja, quem recebe o artigo encaminhado não sabe quem o escreveu. Assim, haveria uma avaliação mais segura, visto que eventuais influências políticas seriam evitadas, por um processo chamado de avaliação cega por pares (blind peer review).

Mas é interessante observar que, se o processo blind peer review é confiável, algumas políticas editoriais podem ser plenamente questionáveis. Recentemente enviei um artigo para uma revista muito bem qualificada, com assunto totalmente compatível com a proposta temática do periódico e com método adequado. Entretanto, para minha surpresa, recebi uma resposta rápida (o que também não é muito comum em periódicos bastante visados) e amarga: o artigo simplesmente não foi aceito, com pelo menos duas justificativas questionáveis - uma delas dizia que a "relevância" não estava de acordo com os critérios da revista, e a outra dizia que, em virtude do "grande volume" de submissões, muito maior do que podem publicar, ele não passou na pré-avaliação.

Não teria nenhum problema em aceitar um não por uma má qualidade do artigo, ou por ter resultados discutíveis, ou mesmo por outros fatores. Mas isso sequer aconteceu. Não tenho uma visão ingênua e romântica de que não há influências nos processos de seleção de artigos, tanto que aconteceu neste caso como acontece em tantos outros. O que acho deplorável é que há critérios obscuros que interferem na produção da ciência, às vezes com a conivência e aceitação dos próprios cientistas. Reservas de mercado em publicações e outros fatores devem ser combatidos e denunciados. Infelizmente não possuo nenhuma prova cabal disto, e penso que ninguém possua. Mas peço aos editores de periódicos científicos um sério exame de consciência, para que não se priorizem elementos não científicos na seleção. Dar uma oportunidade igualitária a todos deve ser característica da boa ciência e dos bons periódicos.