Pós-graduações IMED 2013

sábado, 22 de janeiro de 2011

A ironia do manto de Turim

Dentre os mistérios que alimentam a fé das pessoas está o manto de Turim. Guardado na Cappella della Sacra Sindone do Palácio Real de Turim, o sudário pertence ao Vaticano, e os católicos acreditam que ele cobriu Jesus Cristo após sua cricificação e morte.

As origens do manto são controversas. Vários estudos utilizando datação por carbono-14 apontam que teria sido fabricado na idade média, entre os anos 1260-1390. Alguns estudiosos têm apontado que a utilização deste teste para datação é duvidosa, pois não se sabe por que tipo de situações o manto passou, contaminando o material.

Durante a idade média, era muito comum a fabricação de relíquias religiosas pela Igreja. Para uma comunidade, ter uma relíquia significava peregrinação, e ter peregrinos era uma importante fonte de receita, movimentando de forma importante a economia. Assim, houve vários mantos disputando o título de manto "original" ao longo da história.

Ao observarmos o manto a olho nu, temos uma imagem de frontal e dorsal de um homem usando barba e com cabelos compridos. O negativo de uma fotografia do sudário mostra nitidamente um homem.


Fonte: O Sudário de Turim


Fonte: O mistério do santo sudário

Estudos realizados no século XX apontaram alguns elementos interessantes, sendo que um dos mais importantes refere-se ao problema da proporcionalidade do rosto. Se a imagem da face realmente tivesse sido produzida por um corpo em contato com um tecido, ficaria bastante distorcida (confira aqui a distorção). Isso porque a cabeça humana tem três dimensões, enquanto que a imagem do manto possui duas dimensões.

Mas o mais impressionante é a possibilidade de que o sudário tenha sido a primeira fotografia. Embora não se possa identificar a presença de sulfato de prata, composto presente em negativos fotográficos, visto que a Igreja não permite mais exames do sudário, foi possível reproduzir em laboratório um manto semelhante ao de Turim utilizando técnicas fotográficas rudimentares.

Alguns pesquisadores apontam que Leonardo da Vinci seria a única pessoa capaz de realizar tal feito na idade média. Considerando o contexto religioso, e as poderosas forças políticas e econômicas interessadas na produção de relíquias, a família Savoia teria encomendado a fabricação de uma relíquia a Leonardo.

Além da especulação, há indícios sugestivos da mão de Leonardo: analisando as imagens do rosto do manto, ela encaixa-se perfeitamente a seus desenhos, indicando que utiliza o mesmo sistema de proporções. Ainda, os traços do manto conferem de forma significativa com auto-retratos de Leonardo.

Mesmo que nunca se prove que foi obra de Leonardo da Vinci, seria irônico que o sudário, uma das mais importantes relíquias religiosas do mundo, tivesse sido construído pela ciência, com a tecnologia mais avançada da época somente redescoberta centenas de anos depois. Mais irônico ainda que o rosto de um ateu representasse o ícone maior da cristandade.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Confusão entre depressão e sintomas depressivos

Realizando uma pesquisa em periódicos científicos, encontrei este texto, que faz um apontamento bem relevante sobre a diferença entre depressão e sintomas depressivos.

Embora seja comum na prática dos profissionais da saúde mental o uso do termo "depressão", cabe ressaltar que depressão é um diagnóstico, com critérios bem definidos de acordo com manuais diagnósticos (como a Classificação Internacional de Doenças - CID ou o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana - APA).

Por sua vez, "sintomas depressivos" são apenas os elementos que, em conjunto e por determinado período de tempo, caracterizam o diagnóstico de depressão.

Como professor de psicopatologia, já venho há alguns anos trabalhando com esta distinção, pois observo entre os alunos de psicologia, e entre colegas, o uso inadequado do termo depressão quando na verdade estão se referindo somente aos sintomas depressivos.

A depressão deveria ser utilizada apenas quando há um diagnóstico, ou seja, quando houve uma avaliação clínica, efetuada por um profissional treinado, com conhecimento em psicologia, e preferencialmente com a aplicação de testagens específicas. Fora deste contexto, seria adequada apenas a atribuição de sintomas depressivos.

De forma semelhante, muitos colegas referem-se aos transtornos de ansiedade como se fossem sinônimos de sintomas ansiosos. Igualmente inadequado.

A disseminação na mídia e na linguagem comum de depressão e ansiedade, muitas vezes pela falta de informação qualificada, está atingindo até nossos colegas, que deveriam ter clareza sobre estas diferenças.

Acho importante divulgar esta informação não por preciosismo, mas por clareza. A psicologia somente terá condições de avançar se pudermos eliminar distâncias, e não criando mais trincheiras. O uso de uma linguagem comum contribui para este mister.

sábado, 1 de janeiro de 2011

A evolução e as espécies em anel

Por óbvio que um cão é diferente de um gato. Mas quão diferente? Isso vai depender do quanto nos afastamos no tempo em direção de um ancestral compartilhado.


Embora nosso senso comum tenda a atribuir a cães e gatos categorias distintas, na biologia as coisas não são tão simples assim. É um tema instigante de pesquisa compreender o quanto uma espécie se diferencia da outra, diferença que vai muito além da observação morfológica.


De acordo com a definição de Dobzhansky e Mayr, espécies são grupos de populações naturais que estão ou têm o potencial de estar se intercruzando, e que estão reprodutivamente isolados de outros grupos. Assim, espécies diferentes não poderiam cruzar e gerar indivíduos estéreis.


Há, contudo, alguns fenômenos que rompem com o conceito que temos tradicionalmente de espécie. Um deles é diz respeito à capacidade que algumas bactérias possuem para conjugar genes com outras espécies de bactérias. Além disso, no mundo macroscópico, outro fenômeno também questiona nossa visão clássica de espécie, que é o fenômeno das espécies em anel, ou espécie-anel.


As espécies em anel dizem respeito a um conjunto de populações que caracterizariam espécies distintas, mas que estão em contato geográfico. Assim, é possível o inter-cruzamento destas espécies gerando híbridos férteis, mas nem sempre bem adaptados ao seu meio. A disposição em anel, conforme a figura abaixo, mostra que várias espécies, representadas por cores diferentes, podem cruzar com as espécies adjacentes, mas não conseguem fazê-lo com as espécies mais distantes.




Esse fenômeno já foi identificado em peixes (gênero Aulostomus), salamandras (gênero Ensatina) e pássaros (gênero Philloscopus). Embora não seja muito comum, ele existe, e é uma das provas contemporâneas de que a teoria da evolução das espécies é a que melhor explica a evolução dos seres vivos, e ajuda a refutar hipóteses concorrentes, como a do design inteligente.


Além disso, algo semelhante pode ter ocorrido com os seres humanos. É possível que, num passado remoto, espécies dos gêneros Australopithecus ou Homo tenham realizado cruzamento inter-espécie. Assim, a formação do gênero Homo pode ter sido mais complexa do que se imagina.

A virada de ano e o planejamento estratégico

No início de ano muitas pessoas ficam animadas e fazem promessas. Algumas até mesmo fazem listas, com as propostas de conquistas para o novo período. Mas todas conseguem alcançar o que objetivaram? O que faz com que não alcancem estas metas?

Analisando este comportamento com mais atenção, observamos que muitas destas promessas são feitas ao calor do momento. Aqui surgem os planos e objetivos mais ineficazes, pois muitos deles são excessivamente genéricos (esse ano eu quero ser feliz) ou transcedem o espaço de um ano (vou começar uma nova faculdade e me formar).

Entre as que lembram do que prometeram, há as que escrevem e as que não escrevem os objetivos. Escrever é indicativo de um planejamento um pouco mais sistematizado, mesmo que não seja garantia de realização. Há mais probabilidade de esquecer um pensamento do que algo que foi escrito (e isso que nesta análise estamos desconsiderando os efeitos que o álcool tem sobre a memória).

Daquelas que escrevem seus objetivos numa lista, há os que simplesmente engavetam-na e esquecem. Outros, que somente a resgatam no fim no ano, para comparar o que se concretizou. Penso que poucas pessoas manuseiam a lista periodicamente, por exemplo, a cada mês, para monitorar o andamento das metas. Há, ainda, as que dizem: Este ano farei uma lista e vou cumpri-la.

Finalmente, creio que existam menos pessoas ainda que, a partir desta lista, efetuam um planejamento estratégico, com metas objetivas e cronograma, com possibilidade de ser realizada em um ano, e que acompanham acuradamente sua execução.

O que aconteceria se mais pessoas construíssem listas de início de ano e seguissem este planejamento? Certamente seriam pessoas mais felizes, porque alcançariam seus desejos pessoais. Claro que as pessoas não são mais ou menos tristes porque não fazem listas, mas poderiam ser mais felizes e bem-sucedidas se as fizessem e se houvesse um sistema eficaz de alcance de metas.

Falando de forma genérica, a cultura e a educação não parecem incentivar o comportamento de planejar e executar o que foi proposto. Assim, podemos estar perdendo grandes oportunidades de fazer mais por nossas vidas, simplesmente porque não temos o comportamento de pensar, agir, acompanhar os resultados e traçar novos planos.

Nesta época, as pessoas podem tomar decisões por impulso, ou mesmo desejar muito um determinado desfecho, que é manifestado por estas promessas. Contudo, sem planejamento e sem mudança efetiva de comportamento, isso não será suficiente. Mas não há motivos para preocupação: sempre haverá um novo ano com espaço para novas promessas.

Feliz ano novo a todos.