Pós-graduações IMED 2013

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A seleção do comportamento (III)

Todos os seres humanos possuem um repertório comportamental que é constituído como misto das experiências vivenciadas sobre uma base biológica. Um ponto crucial para o entendimento do comportamento humano é a compreensão de como a experiência é inscrita na biologia; essa é uma das chaves para os comportamentos normais e patológicos.

Analisando acuradamente o comportamento, podemos observar que a infância é uma das mais importantes etapas no estabelecimento da estrutura de comportamento de uma pessoa. Isso ocorre porque o sistema nervoso está susceptível para o recebimento de registros, especialmente emocionais, que balizarão o comportamento futuro, em direção à patologia ou à funcionalidade. Portanto, as relações da infância, especialmente as familiares, são fundamentais na consolidação destes registros.

Contudo, esses registros não são efetuados de forma intencional. Os mecanismos evolutivos parecem ter favorecido a reprodução inconsciente dos registros emocionais, posteriormente passíveis de serem modificados de forma consciente. Isso proporciona uma economia: se há um mecanismo padronizado (instintual) de registro de emoções relevantes, os processos de memória ao mesmo tempo são poupados, e posteriormente também orientam o sistema comportamental em direção ao que o sistema social e a família já selecionaram como relevante para a sobrevivência.

A vida adulta é orientada de forma não-consciente por estes registros, efetuados em regiões mais primitivas do cérebro. Isso explica em parte porque é difícil entendermos o nosso próprio comportamento, e é mais fácil compreender o comportamento alheio. Essa "cegueira" comportamental é, também, um efeito colateral destes registros inconscientes, visto que o acesso aos eventos mais precoces é restrito, mas com certeza nos influenciarão para o resto da vida.