Pós-graduações IMED 2013

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A psicologia "de dentro" e "de fora"

A psicanálise nasceu dos esforços de Freud para compreender um transtorno chamado de histeria. Abandonando a hipnose, precisou criar outro método de tratamento e investigação que a substituísse de forma satisfatória. Formulou o princípio da associação livre, e como desdobramento deste, o da transferência. Analisou os sonhos dos pacientes, coisas que antes eram consideradas uma espécie de "lixo" psíquico, e criou uma nova disciplina, que chamou de psicanálise.

A psicologia acadêmica tinha outros propósitos. Preocupada em analisar o comportamento humano pelos métodos das ciências naturais (observação e experimentação controlados), amadureceu como ciência graças às contribuições de Skinner no século XX. O behaviorismo influenciou, e influencia ainda, a educação, e propõe que são os elementos ambientais aqueles que modificam o comportamento.

Freud e Skinner: dois gigantes. Um enfatizando a dimensão pessoal, intrapsíquica, e o outro, o ambiente. Cada um de um lado de um precipício. Seus seguidores, mais talvez do que eles próprios, se ocuparam mais em garantir que esse fosso continuasse como estava. Seria possível, ou desejável, encurtar essa distância? A quem seria bom que isso acontecesse?

Os avanços na neurociência e o nascimento da psicologia cognitiva podem criar as pontes necessárias para aproximar estas bordas. Embora muito ainda reste por ser feito, alguns esforços incipientes estão mostrando que a divisão exterior-interior é arbitrária, conceitual, e pode tanto ser mantida como pode ser eliminada. Não é suficiente uma teoria que seja "exclusivamente" clínica, nem "exclusivamente" teórica. Enquanto se pensar assim, sem a construção de pontes, os maiores prejudicados são aqueles que deveriam ser os beneficiados.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

O organismo vazio

O behaviorismo radical de B. F. Skinner é chamado também de "abordagem do organismo vazio". Isso acontece porque nesta teoria sobre o comportamento humano são ignorados elementos referentes à "mente": se os elementos mentais não podem ser observados, eles não podem conseqüentemente ser objeto de análise científica.

Torna-se claro que este posicionamento é alvo de críticas de outras perspectivas, por exemplo o cognitivismo, que postula que a mediação dos processos de pensamento é fundamental na regulação do comportamento. Não seria possível, nesta crítica, que todo o comportamento fosse regulado exclusivamente pelos elementos ambientais através dos sistemas de contingências (reforços) porque processos como a memória, o pensamento e a linguagem modelam e oferecem soluções para as diversas situações pelas quais passamos.

Obviamente os processos mentais, definidos como a capacidade de processar de forma diferenciada informações provindas do exterior e do interior do organismo, são agentes reguladores centrais do comportamento. Mas queremos nos deter no seguinte aspecto: o que seria uma abordagem "cheia" do organismo? o que seria este cheio em contraposição ao suposto "vazio" skinneriano?

Quando se fala em vazio pensa-se em cavidade. Não é o caso do cérebro, a não ser que estejamos nos referindo aos ventrículos... falar num organismo vazio como propõem os críticos significa falar que há uma ausência, no caso, uma ausência de ser pensante. Mas pensar num organismo "cheio" implica em se perguntar: cheio de quê? Talvez implicitamente a isso esteja uma imagem de uma pessoa "morando" dentro do corpo ou do cérebro, "vestindo" a roupa da pele, ocupando um "espaço" e realizando as funções do pensamento, memória, etc. Seria cheio porque haveria um morador, alguém que dá uma identidade e uma consciência a cada organismo.

É sabido que os processos mentais regulam e são regulados por mecanismos fisiológicos. Se somos constituídos de neurônios que dependem de um equilíbrio fisiológico para permanecerem vivos e processando informação, ainda resta a questão de saber o que é este ser pensante, e se ele existe, onde está. Tão problemático quanto considerar um "organismo vazio" é postular a existência de um "organismo cheio". Mesmo que seja mais confortável pensarmos que existe um "alguém" em nós, torna-se cientificamente e filosoficamente complicado explicar o que ou quem seria este alguém. Mas se somos o produto de processos cognitivos, se nossa consciência depende do funcionamento de estruturas cerebrais para existir, talvez Skinner não estivesse tão errado assim.